Medo e tensão marcam eleições na República Centro-Africana
28 de dezembro de 2020Na capital, Bangui, forças de manutenção de paz da ONU, soldados locais e ruandeses patrulhavam as ruas no domingo (27.12), dia de eleições presidenciais e legislativas, com veículos blindados parados no exterior das mesas de voto.
Na capital da República Centro-Africana (RCA), apesar do medo, os eleitores puderam votar, contou à DW um cidadão local. "Há segurança suficiente para votar e muita gente. Mas tenho a certeza que há pessoas que ainda estão em casa porque têm medo", disse.
Entretanto, longe da capital, onde têm decorrido combates há cerca de uma semana, incidentes foram relatados ao início do dia. Na cidade de Bouar, muitos foram impossibilitados de votar.
"Ninguém votou em Bouar, as mesas de voto não foram abertas. Às 4 horas da manhã já se ouviam tiros dos rebeldes. Eu queria ir votar, mas infelizmente foi-nos dito na rádio que não haveria eleições. Foram disparados tiros, não conseguimos sair. Não há ninguém na cidade: nem autoridades competentes, nem eleitores", relatou à DW outro cidadão.
Ameaças de morte
No noroeste do país, a mais de 500 quilómetros da capital, os rebeldes apreenderam material eleitoral e os funcionários receberam ameaças de morte em Ngaoundaye, de acordo com um alto funcionário da ONU. Em algumas áreas, os rebeldes ameaçaram qualquer pessoa que fosse votar.
Paul-Crescent Beninga, porta-voz do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil (GTSC), acusa o ex-Presidente François Bozizé pela insegurança. E diz que "segurança e reconciliação" devem ser prioridades do novo Presidente.
"Apenas uma parte da RCA votou e a outra parte não pôde votar porque está a ser vítima de violência armada. Parte da República Centro-Africana é controlada por grupos armados. Esta é uma situação extremamente delicada e complicada", declarou Beninga.
A candidatura de Bozizé às eleições presidenciais foi invalidada no início de dezembro pelo Tribunal Constitucional, alegando que as sanções das Nações Unidas, devido ao seu alegado apoio às milícias, eram incompatíveis com uma candidatura à presidência.
No domingo, o ex-chefe de Estado François Bozizé, cuja candidatura foi invalidada, apelou à população para não votar nas eleições presidenciais na República Centro-Africana, a apoiar os rebeldes que lançaram uma ofensiva contra o atual Presidente e candidato favorito Faustin Touadéra.
Touadéra em entrevista à DW
Questionado pela DW sobre o não adiamento das eleições face aos crescentes episódios de violência, Faustin Archange Touadéra, que concorre a um segundo mandato presidencial, respondeu: "Não me cabe a mim mudar as datas."
"Sou candidato a Presidente da República, guardo e respeito as instituições. Respeito a missão de cada instituição. A Constituição do nosso país atribui a missão a duas instituições: a Autoridade Nacional de Eleições e o Tribunal Constitucional", lembrou.
Na entrevista, o Presidente cessante da RCA sublinhou também a importância da paz no país: "Há lugar para todos".