Militante do MPLA muda de camisola e crítica governo angolano
29 de junho de 2012O militante de há 20 anos do MPLA, o partido no poder, André Mendes de Carvalho, protagonizou um dos factos políticos mais inesperados, quando abandonou este partido para entrar na coligação CASA-CE, Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral. O seu nome foi avançado como o segundo da lista da coligação liderada por Abel Chivukuvuko, antiga figura emblemática do maior partido da oposição, a UNITA.
Na concorrida conferência de imprensa na quarta-feira, Mendes de Carvalho disse que abraça agora um projeto político porque quer ajudar a mudar o país. O almirante na reforma não poupou críticas ao atual regime e ao sistema.
O segundo cabeça de lista da coligação CASA-CE não faz uma avaliação boa para o país: "Não é segredo para ninguém, o país caminha para o abismo."
Satisfazer as necessidades básicas da população
Na opinião de Mendes de Carvalho há um acumular de insatisfação, de revolta. Segundo ele isso "não se apaga com cimento armado nem com asfalto. É verdade que se vão fazendo muitas construções, mas não é isso que satisfaz as mentes dos cidadãos." O novo membro da CASA-CE lembra que há pessoas que se calhar só tem uma refeição por dia e há outras que nem isso tem.
Sem medo de errar o até há pouco almirante da marinha de guerra, afirmou que a democracia está em risco e que a corrupção é cada vez maior. Para Carvalho também "há muita intolarância política e um défice democrático no país."
O segundo cabeça de lista da CASA-CE fez referência aos altos niveis de corrupção que o país apresenta, e lembra que Angola hoje está pior do que alguns países que outrora eram os maus exemplo: "Falavamos do Zaire (atual RDC), da Nigéria, mas nesses lugares nunca vimos os seguranças sairem de um banco central com caixas de milhões de dólares. "
Contradições entre a teoria e a prática
Ainda sobre a corrupção, André Mendes de Carvalho falou sobre o paradoxo que existe em Angola relativamente aos mecanismos de combate e a sua execução. O almirante na reforma cita alguns exemplos: "Tolerância zero, lei da probidade pública, alta autoridade contra a corrupção. É só falácia, linguagem sem qualquer conteúdo e nós continuamos na mesma."
E o rol de críticas continuou, em relação a publicação dos bens de gente ligada ao poder. Carvalho disse que nunca viu nada. Por outro lado, o que considerou de presidência ilegitima de José Eduardo dos Santos e a indiferença do regime face as constantes manifestações não foram esquecidas pelo almirante na reforma.
De referir que ao longo de 30 anos, Mendes de Carvalho exerceu sempre cargos de alto nível nas forças armadas, tendo passado também pela diplomacia angolana, onde trabalhou em Moçambique e Zimbabué. O almirante é filho de um importante membro do MPLA, Agostinho Mendes de Carvalho, que já foi ministro da Saúde e deputado.
Esta mudança de "camisola" acontece numa altura que Angola se prepara para acolher eleições gerais, parlamentares e presidenciais, e para este último caso a eleição será indireta, tal como para o cargo de vice-presidente do país.
Oposição denuncia preparação de fraude
Alguns partidos angolanos acusaram o partido no poder e o presidente José Eduardo dos Santos de estarem a preparar uma fraude eleitoral. A UNITA, o maior partido da oposição, o Bloco Parlamentar, o Partido Popular e o Partido Democrático para o Progresso de Aliança Nacional de Angola afirmam que há graves manipulações no registo de eleitores, uma facto que na óptica deles influencia na legalização das candidaturas dos partidos.
Esta sexta-feira (29.06) é o prazo que o Tribunal Constitucional determinou para que sejam resolvidas as irregularidades das candidaturas dos partidos às eleições gerais marcadas para o próximo dia 31 de Agosto.
Autor: António Moura (Luanda) / LUSA
Edição: Nádia Issufo / António Rocha