Moçambique: "O terrorismo pode dividir o país" - Nyusi
15 de março de 2024O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, alertou, esta sexta-feira (15.03), que o terrorismo pode dividir o país, defendendo a união de todos para combater os grupos rebeldes na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
"O terrorismo pode-nos dividir (...). Se brincarmos, nós podemos ficar sem pátria", declarou o chefe de Estado durante uma cerimónia de graduação na Academia de Ciências Policiais (ACIPOL), nos arredores da capital moçambicana, Maputo.
Segundo Filipe Nyusi, a resolução do problema no norte do país passa pela união dos moçambicanos. Disse ainda que as forças estrangeiras que apoiam Moçambique no combate aos grupos armados em Cabo Delgadodevem ser acarinhadas.
"Nós temos de estar unidos. (...) O terrorismo é uma das únicas coisas em que o mundo todo se junta para combater. A região juntou-se para combater o terrorismo. Então, como é que o próprio país, que vive o terrorismo, não se junta para o combater", questionou Filipe Nyusi.
Diálogo com os terroristas?
"Nós não temos força moral para falar mal de quem vem nos ajudar", acrescentou o Presidente moçambicano, rejeitando o argumento de que a pobreza é o fator da guerra em Cabo Delgado", adiantou, contrariando igualmente a sugestão de uma linha de diálogo com os terroristas, defendida sobretudo pelos dois partidos de oposição no Parlamento em Moçambique.
"Não há pobreza em Chicualacuala [província de Gaza, no sul do país]", questionou Nyusi, alertando que "hoje [a guerra] está ali [Cabo Delgado] e amanhã pode estar aqui [em Maputo]".
Filipe Nyusi aproveitou a ocasião para "homenagear todos os jovens que estão a manter o país intacto. "Eu falo com alguns deles e, passado dois dias, o jovem já não existe. (...) Não pode haver pessoas que, sem responsabilidade, usam as pessoas que se sacrificam no terreno para fazer política", acrescentou, manifestando a intenção do Executivo moçambicano em "continuar a investir nestes jovens".
Ligeira acalmia em 2023
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista islâmico. Depois de uma ligeira acalmia, em 2023, estes ataques multiplicaram-se nas últimas semanas, criando cerca de 100 mil deslocados só em fevereiro deste ano, além de um rasto de destruição, morte e famílias desencontradas.
Esta insurgência levou a umaresposta militardesde julho de 2021, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás. No entanto, surgiram novas vagas de ataques a sul da região.
Desde 2017, o conflito já fez mais de um milhão de deslocados, de acordo com as agências das Nações Unidas, e cerca de quatro mil mortes, conforme indicou o Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.