Novas expressões artísticas da lusofonia "ocupam" Lisboa
10 de maio de 2013Ao entrar na galeria de exposições temporárias, no edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian, depara-se com a primeira peça trazida pelo artista moçambicano Gemuce, que incontornavelmente desperta a atenção de todos os visitantes. A peça é uma réplica de uma peça do fotógrafo Ricardo Rangel, intitulada "Prioridade de Passagem".
Gemuce transformou o homem fotografado por Rangel numa estátua e cobriu-o de moedas “e deu-nos a nova prioridade de passagem dos tempos contemporâneos, que é este dinheiro que controla tudo”, conta Elisa Santos, uma das coordenadoras da exposição.
42 metros de cor de Shot B
A estátua de Gemuce salta à vista, quase a ofuscar o mural ao fundo pintado no próprio espaço pelo também moçambicano Shot B. O colorido painel tem 42 metros, distante dos 300 metros que expôs na capital moçambicana.
“Quando o António Pinto Ribeiro fez a proposta de trazermos uma exposição documental para Lisboa, desde logo disse gostava que viesse o Shot B pintar um mural em Lisboa e gostava de trazer os cartazes do Paulo Kapela, um artista angolano, para ficar em contra-ponto na outra parede”, recorda Elisa Santos.
Shot B pinta os ratos em Maputo e junta imagens da sua passagem por Lisboa, nomeadamente a calçada, a paisagem, as colinas e alguns edifícios típicos da capital portuguesa.
Azagaia e Filipe Branquinho entre os artistas
Entre os artistas portugueses, angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos presentes na mostra, também se destaca o rapper moçambicano Azagaia, músico de intervenção que concebeu a sua própria página de Facebook em cartão. Aqui encontramos trabalhos de criatividade em desenho, vídeo, fotografia, escultura e instalação.
Presente está também a criação de Filipe Branquinho. “Primeiro vim expor nos jardins da Gulbenkian, depois no Mindelo e depois volto à Gulbenkian, sem dúvida nenhuma que dá outra projeção e alguma credibilidade ao trabalho”, comenta o jovem moçambicano.
Além de fotografia, o autor de “Ocupações” trabalha em ilustração e por vezes em vídeo. Gosta sobretudo de fotografar a população trabalhadora. Para Filipe Branquinho, esta oportunidade significa uma porta que se abriu para o mundo. O fotógrafo é um dos nomes selecionados para a BES Photo 2013, exposta no Museu Berardo, em Lisboa.
Angola é a próxima paragem do projeto
A exposição “Ocupações Temporárias – Documentos” foi inaugurada no dia 12 de abril e está aberta ao público até 26 de maio, mês em que se celebra também em Portugal o dia de África (25 de Maio). As visitas têm ultrapassado as expetativas da organização.
A mostra é uma realização conjunta dos Programas “Próximo Futuro” e de Apoio ao Desenvolvimento, patrocinados pela Fundação Calouste Gulbenkian. Um projeto que começou em Maputo, capital de Moçambique, em 2010, passou depois pela cidade do Mindelo, em Cabo Verde, para chegar agora a Portugal.
O projeto vai continuar a circular. A próxima edição da mostra ”Ocupações Temporárias” terá lugar em Angola, numa data que ainda está por afixar, “já que a ideiaé que estes artistas circulem e que haja este entrosamento entre todos”, revelou à DW África Elisa Santos.