Polémico julgamento contra jornalista angolano poderá ter desfecho em breve
15 de maio de 2012Em 2007, depois do famoso julgamento do General Miala, então chefe do serviço de inteligência de Angola, o jornalista Ramiro Aleixo escreveu dois artigos em que qualificou o julgamento como uma farsa.
Miala havia sido inicialmente acusado por suposta tentativa de golpe de Estado, mas de fato julgado por insubordinação ao se ter recusado a comparecer a uma cerimónia pública para rebaixamento de sua patente. Aleixo criticou o fato de a justiça militar não ter apresentado quaisquer explicações sobre a suposta tentativa de golpe.
Hoje, cinco anos mais tarde, o próprio Aleixo responde a processo pela opinião expressa no semanário Kesongo, do qual era diretor e proprietário. Para o também jornalista e defensor dos direitos civis, Rafael Marques, que assistiu ao julgamento na última sexta-feira, o processo tem vícios graves.“A acusação não usou uma vez sequer a lei de imprensa que é a lei que rege a atividade dos jornalistas. Usou apenas o código penal”. Por outro lado, acrescenta Rafael Marques,“Ramiro Aleixo publicava o jornal de caráter regional na província de Benguela, no sul de Angola, onde foram publicados esses textos. Se ele é processado apenas de acordo com o código penal, então ele devia ter sido julgado em Benguela e não no tribunal provincial de Luanda”.
Leitura da sentença prevista para a próxima semana
Está marcado para o dia 25 de maio a apresentação da defesa do jornalista e, no mesmo dia, a leitura da sentença, fato criticado por Rafael Marques. “O advogado de defesa de Ramiro Aleixo perguntou como seria possível o juiz decidir de forma imparcial logo após a apresentação das alegações, e o advogado disse que poderia arriscar a dizer que o juiz já tinha a sentença preparada. com tanta pressa que tinha de fazer tudo ao mesmo tempo”.
O próprio jornalista Ramiro Aleixo questiona os fundamentos do processo, pois o General Miala já foi inclusive reintegrado aos quadros do exército. “Para mim esse é um caso que não se justifica porque o Fernando Garcia Miala e seus colaboradores já cumpriram pena, já foram soltos e até uns já foram reintegrados”.
Aleixo também questiona o andamento do processo, que levou cinco anos para realizar a primeira audiência e duas semanas para apresentar a sentença, “ou seja é uma justiça que só funciona com rapidez para os pobres e fracos, os ricos continuam impunes."
O ativista Rafael Marques diz esperar, entretanto, o tribunal arquive o processo. “Eu creio que haverá atenção suficiente para este caso para que o tribunal possa em consciência fazer aquilo que é a única decisão possível neste caso, que é anular o caso para mandar o Ramiro Aleixo para casa em liberdade”.
Autora: Francis França
Edição: Helena Ferro de Gouveia/António Rocha