Zambézia: Polícia bloqueia acesso ao congresso da RENAMO
16 de maio de 2024A Unidade de Intervenção Rápida da Polícia de Moçambique bloqueou nesta quinta-feira (16.05) as ruas que dão acesso ao local onde decorre o congresso da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) em Alto Molócuè, na província da Zambézia.
O objetivo seria impedir a passagem de Venâncio Mondlane e seus apoiantes para o recinto do congresso do maior partido da oposição no país.
Há um "ambiente de terror" na sala do congresso da RENAMO, disse hoje Mondlane aos média moçambicanos.
Segundo a imprensa local, também e edil da Quelimane, Manuel de Araújo, precisou furar uma barreira montada pela polícia em Alto Molócuè para aceder ao congresso, depois de minutos sem autorização para aceder ao local, onde registou-se tumultos e violência à entrada.
Também jornalistas que cobrem o sétimo congresso da RENAMO foram hoje expulsos por elementos do partido do recinto do evento e à entrada registaram-se agressões entre apoiantes.
Polémica
Em meio à forte polémica dentro do partido opositor, o deputado Venâncio Mondlane acusou hoje a RENAMO de violar uma ordem do tribunal que permitia a sua participação no sétimo congresso da maior força da oposição, não descartando concorrer à Presidência de Moçambique sem apoio do partido.
"A decisão que ordenava à mesa do congresso para eu entrar na tenda, no congresso, foi desobedecida pelos órgãos jurisdicionais do partido (...), o responsável da área jurisdicional negou assinar a notificação do tribunal", acusou hoje Venâncio Mondlane.
O membro do maior partido da oposição em Moçambique protesta contra supostas violações dos estatutos do partido, alegadamente cometidas pela liderança.
O deputado, cuja candidatura à liderança do partido foi excluída pelos requisitos definidos pelos órgãos internos (período de militância), garantiu hoje que "passaria como rolo compressor" neste congresso.
Além disso, disse que ia "esmagar tudo e todos" concorrentes durante a eleição do presidente da RENAMO, assumindo que esse foi o motivo da não aceitação da sua candidatura.
Jornalistas expulsos e agressões à porta do congresso
Jornalistas que cobrem o sétimo congresso da Resistência Nacional Moçambicana foram expulsos por elementos do partido do recinto do evento e à entrada registaram-se agressões entre apoiantes.
De acordo com imagens transmitidas em direto pelos órgãos de comunicação social a partir de Alto Molócue, província da Zambézia, onde decorre o congresso, os jornalistas foram retirados do local, entre ameaças visíveis de elementos da organização, para o exterior do perímetro, que por sua vez é guardado por um forte dispositivo policial.
"A polícia fez um juramento de respeitar a Constituição da República e eles devem saber respeitar a Constituição da República. Nenhum elemento da polícia tem o direito de encostar num membro de um partido, neste caso um congressista. Eu sou um congressista, eu tenho o direito a estar lá na sala. Ou não fizeram o trabalho de casa ou têm outras tarefas. Tenho muita pena, é uma vergonha”, disse Manuel de Araújo, depois de passar pelo cordão policial.
À entrada do recinto do congresso registaram-se tumultos e agressões, por parte de elementos da organização do congresso e alegadamente pessoas que acompanhavam Manuel de Araújo, para travar a passagem daqueles, como foi possível verificar nas imagens em direto.
As ameaças e expulsões dos jornalistas acreditados para o evento seguiram-se à tentativa de confirmar a entrada de Manuel de Araújo na tenda do congresso, cerca das 16:30 locais.
Liderança da RENAMO
Um dos principais nomes na RENAMO, Venâncio Mondlane tinha anunciado a candidatura à liderança do partido no congresso, que decorre desde ontem em Alto Molócue, província da Zambézia, a qual não foi aceite.
Em declarações aos jornalistas, ele explicou que interpôs uma providência cautelar, garantindo que a mesma foi aceite pelo Tribunal Distrital de Alto Molócue, autorizando a sua participação no sétimo congresso do partido.
O sétimo congresso do maior partido da oposição moçambicana decorre desde ontem em Alto-Molócue, na Zambézia, província do centro de Moçambique, conta com cerca de 700 representantes, que deverão eleger o novo presidente do partido, entre nove candidatos.
Por outro lado, o líder atual do partido, Ossufo Momade, tem sido externa e internamente criticado devido a alegada inércia face a supostas irregularidades nas eleições autárquicas moçambicanas de outubro passado, sendo também acusado de negligência face à situação dos guerrilheiros do partido desmobilizados à luz do acordo de paz com o Governo.
Após a eleição do presidente, a RENAMO terá de clarificar qual o candidato que vai apoiar ao cargo de Presidente da República nas eleições de outubro, que, por norma, é o líder do partido.
Moçambique realiza em 09 de outubro eleições gerais, incluindo presidenciais, às quais já não pode concorrer o atual Presidente, Filipe Nyusi, por ter atingido o limite constitucional de dois mandatos.
Questionado sobre o seu futuro, Mondlane não descartou a possibilidade de concorrer para Presidente de Moçambique nas eleições gerais de 09 de outubro sem o apoio da RENAMO, decisão que tomará após o fim do congresso hoje.
(em atualização)