RDC: Pelo menos cinco mortos em protesto contra Kabila
21 de janeiro de 2018Pelo menos cinco pessoas morreram e 33 ficaram feridas em Kinshasa, este domingo (21.01), quando as forças de segurança abriram fogo sobre os manifestantes que participavam em marchas proibidas pelas autoridades, exigindo a demissão do Presidente Joseph Kabila. O balanço é da missão de paz da ONU no país, a MONUSCO, que dá conta ainda de 69 detenções durante a manifestação.
Uma adolescente de 16 anos morreu quando as forças de segurança dispararam contra a entrada da Igreja de Saint-François-de-Salles, na área de Kitambo, na capital da RDC, segundo Jean Baptise Sondji, antigo ministro e membro da oposição ouvido pela AFP.
"Um veículo blindado passou em frente à igreja. Começaram a disparar balas reais, eu protegi-me”, explica Sondji. "Uma rapariga que estava na porta do lado esquerdo da igreja foi atingida”, relata o ex-ministro, acrescentando que a adolescente já estava morta quando foi levada de táxi para o hospital. Funcionários da Cruz Vermelha terão confirmado a morte, segundo Sondji.
Redes sociais, e-mail e serviços de mensagens de telemóvel foram cortados antes dos protestos, enquanto as forças de segurança instalavam barreiras nas principais ruas da cidade e agentes armados faziam a verificação da identidade dos transeuntes.
Balas reais e gás lacrimogéneo
As forças de segurança usaram balas reais e gás lacrimogéneo para dispersar as marchas que se seguiram a uma missa na igreja, segundo a AFP.
“Marchei por um motivo simples: quero criar os meus filhos num país que respeita os direitos humanos”, disse Pascal Kabeya, um comerciante de 40 anos, à agência Reuters num subúrbio de Kinshasa onde se juntaram centenas de pessoas em protesto.
A tensão tomou conta também das cidades de Kisangani, Lubumbashi, Goma, Beni e Mbuji Mayi.
As marchas foram organizadas por um grupo de católicos contra a continuidade no poder do Presidente Joseph Kabila, três semanas após um protesto semelhante, na noite de Ano Novo, que acabou em violência. Em dezembro, foram mortas seis pessoas em marchas semelhantes na RDC, cinco delas em Kinshasa.
No sábado (20.01), o líder da comunidade islâmica, Ali Mwinyi M'Kuu, pediu às autoridades que autorizassem as marchas: "Se decidirem reprimir, não haverá paz. Se deixarem a marcha ter lugar, respeitarão a Constituição e a paz prevalecerá".
A contestação a Kabila tem vindo a subir de tom desde que o Presidente recusou abandonar o cargo no final do seu mandato, em dezembro de 2016, levando a protestos que já fizeram várias vítimas mortais.