Situação na Guiné-Bissau causa apreensão no vizinho Senegal
1 de junho de 2012A instabilidade na Guiné-Bissau preocupa as populações de Casamança, principalmente depois da chegada a Bissau de uma força militar oeste-africana com cerca de 600 homens, composta por soldados do Burkina Faso, da Nigéria e do Senegal. No sul do Senegal, que faz fronteira com a Guiné-Bissau, situa-se uma região que enfrenta há 30 anos uma rebelião independentista, liderada pelo Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC).
As populações que habitam a região de Casamança temem o espectro de uma guerra entre o exército da Guiné-Bissau e as tropas enviadas pela CEDEAO, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental. Uma situação que, segundo o correspondente da DW África, em Ziguinchor - principal cidade de Casamança -, poderá ter repercussões na região. Isto porque a rebelião naquela região senegalesa teve no passado alianças políticas e militares na Guiné-Bissau.
Envolvimento militar de independentistas improvável
Em entrevista à DW África, Abdulai Sambo, habitante de Ziguinchor, disse que as populações de Casamança ficam sempre muito preocupadas e com medo quando a situação na vizinha Guiné-Bissau se torna instável e explica: “Os problemas que surgiram nos últimos anos na Guiné-Bissau repercutiram sempre em Casamança, nomeadamente o conflito político-militar de 1998 entre o general Ansumane Mané e o ex-presidente "Nino" Vieira”. Este senegalês avança que durante e na sequência do conflito “a violência aumentou de forma drástica, nomeadamente com a ocorrência de vários confrontos ao longo da fronteira entre Casamança e a Guiné Bissau”.
Mas para o jornalista Oumar Djata, escritor e observador atento dos conflitos na região ocidental do continente africano, nas circunstâncias atuais um envolvimento do MFDC num eventual conflito armado na Guiné-Bissau é pouco provável, mesmo que a situação político-militar na Guiné-Bissau se agrave, como aconteceu em 1998. “O envolvimento do MFDC no passado, nomeadamente no conflito entre Ansumane Mané e o general "Nino" Vieira, foi uma situação totalmente diferente. Os atores político-militares do lado do MFDC naquela altura não estão mais do mesmo lado”, explica o jornalista.
Militares angolanos ainda não se retiraram da Guiné-Bissau
Entretanto, continua sem data, a retirada da Guiné-Bissau da Missang, a missão militar angolana, embora seja uma partida já programada, como deixou entender o ministro da Defesa de transição guineense, Celestino de Carvalho. A Missão Técnica Angolana de Apoio ao Processo de Reforma do setor militar guineense, tem 270 homens estacionados em Bissau, entre soldados e polícias. Já dias antes do golpe de Estado de 12 de abril o governo de Luanda tinha anunciado o fim da sua permanência naquele PALOP. Recorde-se que a presença da Missang, foi uma das justificações dos militares guineenses para o golpe.
Enquanto isso, a União Europeia decidiu reforçar as sanções contra o comando militar da Guiné-Bissau, acrescentando 15 pessoas à lista original de seis militares, proibidos de entrar no espaço comunitário e sujeitos ao congelamento de bens na Europa.
Segundo a agência de notícias LUSA, ao anunciar na quinta feira o reforço das sanções, a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Catherine Ashton, disse que os membros da junta militar continuam a ameaçar a segurança e a estabilidade na Guiné-Bissau e que a UE exige que a ordem constitucional seja imediatamente reposta.
Autor: Diallo Mamadou Alpha/António Rocha (LUSA)
Edição: Cristina Krippahl