Sociedade civil acompanha contagem de votos paralela das eleições em Angola
8 de setembro de 2012Ângelo Kapwatcha percorreu várias províncias de Angola para verificar como decorria o processo eleitoral. " Nós destacamos equipas em sete províncias, no Huambo onde resido habitualmente, Namibe, Cuando Cubango, Lunda Norte e Sul, Benguela, Huíla e Luanda, que estiveram quer nas cidades quer nas zonas rurais".
Nas zonas rurais as equipas de observação da sociedade civil angolana detetaram algumas irregularidades. "Em termos concretos as principais irregularidades tiveram a ver com o facto dos eleitores terem sido identificados para votar fora das zonas rurais e fora das localidades onde vivem", explica Ângelo Kapwatcha. Isto não terá constituído um problema para os eleitores alfabetizados, sendo porém um obstáculo "para os que não sabem ler nem escrever". Outras irregularidades "foram de ordem material, como por exemplo a falta de iluminação. Lembro que em algumas zonas rurais a votação decorreu até às 19 horas".
Media estatais angolanos foram parciais
Em Luanda, Sizaltina Cutaia, coordenadora da ONG Open Society recebeu este e muitos outros relatos. Agora chegou o momento de os sistematizar e elaborar um relatório assim como uma lista de recomendações a apresentar à Comissäo Nacional Eleitoral, para que dentro de cinco anos não se repitam os mesmos erros. Sizaltina Cutaia explica, "vivi todo o processo eleitoral com algumas preocupações por causa de alguns incidentes que foram acontecendo ao longo do processo eleitoral".
Sizaltina Cutaia destaca as violações à lei de imprensa e à Constituição da República por parte "da comunicação social pública, que devia ter sido imparcial e dar igualdade de espaço a todos os partidos políticos", o que não aconteceu. Esta observadora aponta ainda a utilização de recursos públicos " para beneficiar a campanha do partido no poder".
"Confunde-se a floresta com as árvores"
Apesar das irregularidades constatadas, o processo eleitoral, as eleições própriamente ditas, e os dias que se seguiram ao ato eleitoral correram de forma ordeira e pacífica. Näo será isso o mais importante? "O civismo dos cidadãos não tem nada a ver com a credibilidade do processo eleitoral. São duas coisas completamente diferentes", afirma Elias Isaac, representante da Open Society Angola.
"O maior problema angolano é o tipo de governação e os políticos. Os observadores internacionais da CPLP, da União Africana, da SADC confundem a floresta com as árvores. Eles vem cá ver a floresta, mas nós conhecemos as árvores".
Autor: António Cascais (em Luanda)
Edição: Helena Ferro de Gouveia / António Rocha