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The Resort Group responde a críticas da SOS Tartarugas sobre projeto em Cabo Verde

Nuno da Fonseca7 de outubro de 2013

A construção de um quebra-mar na Baía do Algodoeiro, ilha do Sal, ameaça as tartarugas, diz a SOS Tartarugas. Resort Group argumenta que normas ambientais estão a ser cumpridas e que projeto trará benefícios económicos.

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Foto: SOS Tartarugas

O Governo de Cabo Verde aprovou recentemente um projeto privado para a construção de um quebra-mar na Baía do Algodoeiro, na ilha do Sal, o que gerou alguma polémica por se tratar, segundo os ambientalistas, de um projeto que só vai beneficiar a rede de hotéis do The Resort Group PLC e que afetará a biodiversidade marinha, em específico as tartarugas.

O promotor do projeto, Victor Fidalgo, afirma que o estudo de impacto ambiental foi aprovado pelas autoridades cabo-verdianas por estar de acordo com as normas ambientais adoptadas pelo país. Por outro lado, sustenta que o estudo de monitorização ambiental apresentado pelo The Resort Group "contempla todos os aspetos ambientais, não só as tartarugas".

Segundo o promotor, as obras vão arrancar em janeiro próximo. "É um projeto que se estende por uma área de cerca de 7,4 hectares e que prevê a construção de 601 suites, num investimento de cerca de 80 milhões de euros. O quebra-mar vai ocupar 210 metros ao longo da costa e entra no mar até cerca de 130 metros", diz.

Kap Verde - Schildkröte Insel Sal
Em causa está o impacto da construção de um quebra-mar sobre o ecossistemaFoto: SOS Tartarugas

Victor Fidalgo defende que a costa oeste da ilha do Sal e a zona do Algodoeiro, em específico, é uma região abrupta sem areia nem acesso ao mar. Além disso, salienta que o local onde vai ser construído o empreendimento denominado Lana Beach Hotel é uma região rochosa com grande desnível, pelo que a construção do quebra-mar vai permitir o acesso à praia e melhores condições balneares.

Impacto na circulação das tartarugas

Fidalgo rejeita que a região do Algodoeiro seja a principal praia de circulação e desova das tartarugas. Para o promotor, as tartarugas estão mais concentradas na região da Serra Negra. "Naquela zona não há areia, ali não saem tartarugas porque a costa é abrupta, mas com a contrução dos quebra-mares, a água vai ficar mais calma nessa zona, vai haver mais areia e vai ser possível que as tartarugas saiam nessa zona", destaca.

The Resort Group responde a críticas da SOS Tartarugas sobre projeto em Cabo Verde

O mesmo responsável defende que, se isso acontecer, o The Resort Group já tem uma equipa preparada para trabalhar em articulação estreita com a Direção Geral do Ambiente para proteger os ninhos de tartarugas, transladando-os para outras zonas.

Sobre o eventual impacto na Ponta Preta, famosa pelas ondas para a prática do windsurf , Victor Fidalgo afirma que a obra vai ser construída a mais de 600 metros a norte do local onde se realiza habitualmente o campeonato da modalidade. Ele garante que os estudos técnicos oceonográficos de modulação matemática de propagação e agitação maritíma deixam claro que a obra nao irá afetar o desporto praticado naquela praia.

Benefícios económicos do projeto

Victor Fidalgo refere que é graças à atividade turística que Cabo Verde desenvolve a sua economia e que a aprovação da construção dos quebra-mares reflete a posição do Governo de continuar a desenvolver o turismo no país.

Quando estiver em pleno funcionamento, o projecto vai empregar cerca de 620 pessoas, traduzindo-se numa despesa anual em termos salariais de cerca de cinco milhões de euros, afirma o promotor. Por outro lado, indica que o empreendimento deverá gerar receitas anuais de cerca de 6,5 milhões de euros.

Schildkröte in Boavista, Kap Verde *** Author: Carla Fernandes Ort: Boavista Inseln, Kap Verde Datum: August 2011
Resort Group diz que a preservação das tartarugas está contemplada no projetoFoto: DW

SOS Tartarugas critica secretismo

Já Alberto Taxonera, da organização não governamental SOS Tartarugas, considera que há informações omissas. "O problema é que temos informações que não estão incluídas no estudo de impacto ambiental, que é o documento que tínhamos para estudar. Ainda não sabemos a localização exacta para saber onde vai ser feita essa construção", diz Taxonera, a propósito do projeto para a região do Algodoeiro.

O responsável da SOS Tartarugas admite que os ninhos de tartarugas no Sal estão muito repartidos pelas praias da ilha, sendo a praia da Serra Negra a que tem maior densidade de ninhos de tartarugas, mas observa que essa não é a única praia procurada pelas tartarugas para a desova.

E sobre as condições naturais da praia da Baía do Algodoeiro, o responsável da SOS Tartarugas é contudente: "No ano passado, essa era a praia com mais ninhos. É uma das praias com mais areia na região, por isso não faz sentido falar que a construção de esporões vai aumentar o número de tartarugas naquela praia, porque cientificamente isso não é possível provar".

Alberto Taxonera adianta que "podem construir esporões e melhorar as condições balneares para as pessoas daquela praia, mas não vão solucionar o problema da poluição luminosa, por exemplo, e o barulho durante a noite".

ONG desconhece medidas compensatórias

O ambientalista afirma que não tem conhecimento do plano de monotorização ambiental proposto pelo proprietário do projecto e que desconhece as medidas compensatórias. Defende que o acesso ao estudo de impacto ambiental deveria ser público, mas que eles só acederam ao mesmo através da Camara Municipal do Sal, indicando não ter visto qualquer medida compensatória no documento.

Para Alberto Taxonera, a obra vai causar muitos danos no ecossistema marinho e no ecossistema da praia e não será possível tomar medidas compensatórias depois de construídos os quebra-mares. O responsável da SOS Tartarugas critica o estudo de impacto ambiental dizendo que o mesmo foi feito por pessoas que não são biólogos especializados em ecologia da tartaruga marinha. Diz ainda que a a organização que representa nunca foi contatada para dar a sua opinião sobre como melhorar as condições.

Kap Verde Turtle Foundation Miguel
As tartarugas marinhas mudam de praia quando não encontram um local para nidificarFoto: DW

O ambientalista acrescenta que os dados da SOS Tartarugas foram usados de forma errada e que a Direção Geral do Ambiente tomou conhecimento disso. "Eles utilizaram dados da organização para dizer que naquela praia não existem tartarugas, quando na realidade elas estão bem presentes no local", refere.

Alberto explica que as tartarugas marinhas mudam de praia quando nao encontram um local para nidificar. Nesse sentido, refere que estas espécies estão a dirigir-se mais para norte, onde as praias têm menos qualidade, há mais caça ilegal, muitas rochas e muito lixo. Por outro lado, afirma que a praia da Serra Negra é demasiado pequena para suportar mais tartarugas além das muitas que já estão a nidificar ali.

Kap Verde Tourismus
A SOS Tartarugas contesta o estudo de impacto ambiental realizadoFoto: Renate Krieger/DW

O ambientalista diz não ter conhecimento suficiente para poder dar um opinião técnica sobre o impacto dos quebra-mares na praia da Ponta Preta, mas acredita que a sua construção afeta sempre a dinâmica das ondas, e do transporte paralelo para a costa de areia e de partículas, indicando que isso pode ser materializar-se tanto de forma negativa como de forma positiva.

O papel da SOS Tartarugas

Alberto Taxonera defende que a SOS Tartarugas tem um papel muito importante na ilha do Sal e que a organização está a desenvolver um trabalho de preservação das espécies de tartarugas marinhas que as autoridades não podem realizar por falta de recursos.

Para o responsável, há outras ilhas com grande número de tartarugas, com muitas praias de desova, mas a Direção Geral do Ambiente não consegue fazer todo o trabalho sozinha, pelo que o papel da organização não governamental é ajudar a protejer as tartarugas marinhas.