A Europa e as declarações do presidente iraniano
14 de dezembro de 2005O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinedjad, tem provocado a indignação da comunidade internacional, com suas declarações públicas anti-Israel. O governante ultraconservador, eleito em junho último, vem atraindo não só críticas internacionais, como até ameaças de sanções. A seguir, algumas citações diretas (traduzidas a partir da versão alemã da agência de notícias dpa).
26/10/2005- Numa conferência em Teerã, sob o slogan "Um mundo sem sionismo":
"O Estado de Israel foi fundado pela arrogância global [imperialismo] para construir uma cabeça de ponte no mundo islâmico, a fim de combatê-lo [...] Oxalá se realize em breve a profecia do imã [aiatolá Khomeini], de que Israel será destruída pela sabedoria contínua dos palestinos [...] É possível erradicar do mundo árabe essa mancha de vergonha [Israel]."
8/12/2005- Durante encontro de cúpula dos Estados árabes em Meca:
"Alguns Estados europeus insistem que Hitler assassinou milhões de judeus inocentes. Qualquer um que duvide, mesmo munido de provas concretas, ou é condenado, ou acaba na prisão. Nós não reconhecemos essas afirmações [o Holocausto], mas caso sejam verdadeiras, colocamos a seguinte pergunta aos europeus: o assassinato de judeus inocentes é motivo suficiente para apoiar os invasores em Jerusalém? Se as intenções dos europeus são honestas, então deveriam dar um lugar aos sionistas em alguns de seus países, como por exemplo na Alemanha ou na Áustria. Então os sionistas poderão fundar seu próprio Estado."
14/12/2005- Discurso para dezenas de milhares de iranianos, transmitido pela rede nacional, durante giro pelo sudeste do país:
"Ao invés de tematizar o problema principal [os ataques israelenses na Palestina], o Ocidente se dedica ao conto do massacre dos judeus [...] Quando no Ocidente se negam Deus, os profetas e a religião, ninguém se importa, mas quando alguém se recusa a crer nesse conto do massacre dos judeus, então a máquina de propaganda sionista toca o alarme bem alto."
As últimas reações na Europa
José Manuel Barroso, presidente da Comissão Européia: "É realmente chocante o líder de uma nação com assento nas Nações Unidas dizer algo assim". Segundo ele, o Irã não possui o presidente que merece. Em relação ao controvertido programa nuclear iraniano, acrescentou: "Essas palavras nos lembram quão perigoso seria, se esse regime possuísse uma bomba atômica".
Para Douglas Alexander, presidente do Conselho da UE, as declarações merecem condenação incondicional, e "não têm lugar num discurso político civilizado".
Daniel Cohn-Bendit, chefe da bancada verde no Parlamento Europeu, sugeriu que o Irã seja excluído da Copa do Mundo 2006, a realizar-se na Alemanha. Segundo o deputado franco-alemão, trata-se de um meio adequado para isolar da comunidade internacional aquele país do Oriente Médio.
Heinz Fischer, presidente da Áustria: "É inaceitável negar a um país-membro da ONU – neste caso concreto, Israel – o direito à existência". A Áustria também rejeita "com toda a energia" a idéia de que se transfira Israel para o território de outros países.
Ministério de Exterior francês, através de porta-voz: "Condenamos com rigor essa nova declaração do presidente iraniano."
Frank-Walter Steinmeier, ministro alemão do Exterior, taxou as afirmativas de "chocantes e totalmente inaceitáveis". Ele não exclui que elas possam comprometer tanto as relações bilaterais quanto as negociações em torno do programa nuclear iraniano. O ministro prometeu que na próxima cúpula da UE, em Bruxelas, se empenhará para que o bloco emita "um sinal claro da mais radical condenação".
Paul Spiegel, presidente do Conselho Central dos Judeus: "Perdi minha irmã e muitos parentes em conseqüência do Holocausto. Faltam-me palavras para responder a essas afirmações insuportáveis [...] abstrusas e monstruosas."
Salim Abdullah, diretor do Intituto Central Islam-Archiv-Deutschland, considera a negação do genocídio nos campos de concentração e a recente campanha anti-Israel como "contra os valores humanos e profundamente antiislâmica".