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Mercado do açúcar da UE

Geraldo Hoffmann2 de julho de 2007

Reforma do mercado europeu do açúcar, decorrente da vitória do Brasil na OMC, leva agricultores alemães a plantar beterraba para produzir bioetanol. Brasil exporta mais açúcar para a União Européia.

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Colheita de beterraba de açúcarFoto: südzucker

Os países da União Européia ainda buscam alternativas para implementar a reforma do mercado de açúcar, aprovada no final de 2005, depois da vitória do Brasil, da Tailândia e de outros países na Organização Mundial do Comércio (OMC), e que se encontra em vigor desde julho de 2006. Os agricultores alemães apostam no bioetanol para compensar as perdas no açúcar.

Devido à derrota na OMC, a UE é obrigada a reduzir em até 39,7% até 2009 o preço garantido através de subsídios aos agricultores europeus que produzem beterraba de açúcar. Essa medida deve levar a uma redução de 36% da produção de açúcar do bloco de 20 milhões de toneladas para aproximadamente 14 milhões de toneladas anuais. A OMC também limitou as exportações de açúcar da UE a 1,4 milhões de toneladas anuais.

Segundo um balanço feito pela presidência alemã da UE, que terminou neste fim de semana, até agora a redução foi de apenas 2,2 milhões de toneladas. "Isso não basta para estabilizar o mercado europeu de açúcar", informou o Ministério alemão da Agricultura à DW-WORLD. O setor mostra-se insatisfeito com os prêmios oferecidos por Bruxelas para reduzir a produção.

Segundo o ministério, existe a ameaça de um excedente de produção de mais de 4 milhões de toneladas. "Por isso, em maio passado, a Comissão Européia propôs medidas para acelerar a reestruturação do mercado. Nos próximos dois exercícios financeiros devem ser abandonadas cotas correspondentes a 3,8 milhões de toneladas de açúcar", informou Berlim, antes de passar a presidência da UE a Portugal.

O ministério informou ainda que, para o ano financeiro de 2006/2007 (15 meses), a UE previu a importação de 1,88 milhões de toneladas dos países da África, do Caribe, do Pacífico e da Índia; 380 mil toneladas dos Bálcãs; 400 mil toneladas da Romênia e da Bulgária; e 570 mil toneladas de outros Estados.

Brasil exporta mais à UE

Zuckerrohr
Cana-de-açúcar: matéria-prima para açúcar e etanolFoto: Geraldo Hoffmann

O Brasil não foi mencionado nesta estatística, embora o país tenha conseguido aumentar suas exportações para a Europa após a vitória na OMC. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e do Comércio Exterior, as vendas brasileiras de açúcar de cana em bruto e outros açúcares à UE aumentou de 327 mil toneladas no período de junho de 2005/maio de 2006 para 598 mil toneladas de junho de 2006/maio de 2007.

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) prevê para este ano um aumento de 8% da produção brasileira de açúcar bruto, que deverá somar 21,8 milhões de toneladas. O maior importador de açúcar brasileiro é a Rússia, que nos 11 meses até fevereiro de 2007 comprou 3,5 milhões de toneladas do produto. Outros 1,2 milhão de toneladas foram para o Irã e 900 mil toneladas para o Egito.

Segundo o Ministério alemão da Agricultura, para estabilizar o mercado europeu, foi aprovada em março passado uma "redução preventiva" de 2 milhões de toneladas da produção da UE na safra 2007/2008. Isso significa que também os agricultores alemães terão de reduzir sua produção de beterraba em mais 13,5%.

Do açúcar ao bioetanol

Windmühle in einem Rapsfeld
Alemanha é o maior produtor de colza da UEFoto: AP

Segundo o diretor-executivo do Grupo de Trabalho dos Produtores de Beterraba da Alemanha, Dietrich Klein, a área cultivada com beterraba de açúcar no país já caiu 14%, de 419 mil hectares na safra 2005/2006 para 360 mil hectares em 2006/2007.

"Uma parte dessa redução está sendo compensada pelo plantio de beterraba usada no processamento de outros produtos alimentícios ou para produção de bioetanol. Sobretudo o bioetanol começa a ser uma alternativa. A partir de 2008, começa a funcionar uma usina na Saxônia, com capacidade para produzir 100 mil toneladas de etanol, e outra de 46 mil toneladas em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental", explica.

Klein diz que a maioria dos 43 mil plantadores de beterraba na Alemanha está se adaptando à nova situação na UE. Mas como os contratos com as usinas de bioetanol rendem menos do que a produção subsidiada de açúcar, que está com os dias contados, alguns também estariam abandonando a cultura da beterraba e optando, por exemplo, pelo plantio de colza para biodiesel.

Diante da crescente demanda mundial de biocombustíveis e da baixa do preço do açúcar no mercado internacional, também no Brasil a produção de etanol concorre cada vez mais com a de açúcar.

Mesmo assim, por enquanto, ainda parece se confirmar o que previu há um ano o diretor do escritório da Fundação Friedrich Ebert em Bruxelas: "Para os agricultores da UE, a reforma do mercado de açúcar será 'adoçada' com subsídios. Os pequenos produtores da África, do Caribe e do Pacífico são os perdedores. Os grandes ganhadores são os produtores brasileiros, que no futuro dominarão o mercado mundial do açúcar."