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Brasil apoia plano de Trump para o Oriente Médio

30 de janeiro de 2020

Governo brasileiro classifica de "ambiciosa" e "realista" estratégia apresentada pelo governo dos EUA para solucionar conflito israelo-palestino. Aprovado por Netanyahu, plano é rejeitado por palestinos.

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Premiê israelense Netanyahu recebe presidente Jair Bolsonaro em Tev Aviv
Premiê israelense Netanyahu recebe presidente Jair Bolsonaro em Tev Aviv, em março de 2019Foto: picture-alliance/Photoshot

O governo brasileiro declarou nesta quarta-feira (29/01) seu apoio ao controverso plano de paz para o Oriente Médio apresentado nesta semana pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Apesar de a inciativa americana ter sido rechaçada pelos palestinos, que foram excluídos do processo de elaboração do plano de paz, o governo brasileiro considerou a que a estratégia americana "visa à convivência pacífica e viável, tanto do ponto de vista de segurança quanto territorial e econômico" e "constitui um documento realista e ao mesmo tempo ambicioso".

A estratégia prevê a solução de dois Estados, com a Palestina sendo reconhecida pelos EUA como um país soberano. Em contrapartida, os israelenses sairiam favorecidos em todos os pontos de atrito entre os dois lados. O plano prevê Jerusalém como "capital indivisível" de Israel e o reconhecimento de assentamentos israelenses na Cisjordânia.

Além disso, está prevista a recusa do direito de retorno de palestinos refugiados a regiões perdidas para Israel, entre outros pontos.

Caso aceitem essas condições, os palestinos receberiam 50 bilhões de dólares em investimentos nos próximos dez anos, além da conexão de seus territórios por túneis com trens de alta velocidade. A soberania do Estado palestino, porém, seria limitada a territórios desmilitarizados sob controle israelense.

Israel ganharia uma nova fronteira com a anexação do vale do rio Jordão, o que deixaria o território palestino cercado por todos os lados. O plano estabelece um cronograma de quatro anos para que a Palestina chegue a um acordo de segurança com Israel. Nesse período, os palestinos deveriam suspender os ataques do grupo islâmico Hamas e estabelecer a capital de seu Estado na cidade de Abu Dis, a leste de Jerusalém.

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, rejeitou as propostas e fez duras críticas ao plano de Trump para a região. "Jerusalém não está à venda, nossos direitos não estão à venda e não serão barganhados e seu acordo, essa conspiração, não passará", afirmou.

Para o líder palestino, em vez de se tratar de "o acordo do século", como disse Trump no anúncio da proposta de paz, o plano americano seria, na verdade, "o tapa na cara do século". Netanyahu, por sua vez, elogiou a estratégia.

Segundo a nota divulgada pelo Itamaraty, o plano americano satisfaz as "aspirações tanto de palestinos quanto de israelenses, incluindo aspectos fundamentais, como a erradicação do terrorismo, a existência do Estado de Israel com segurança para sua população, o estabelecimento de um Estado palestino democrático e comprometido com a paz, a viabilidade territorial, e a criação das condições econômicas indispensáveis para uma grande elevação do bem-estar do povo palestino".

"Trata-se de iniciativa valiosa, que, com a boa-vontade de todos os envolvidos, permite vislumbrar a esperança de uma paz sólida para israelenses e palestinos, árabes e judeus, e para toda a região", disse o governo brasileiro.

A nota acrescenta ainda que o plano de paz "se afigura compatível com os princípios constitucionais que regem a atuação externa do Brasil, notadamente a defesa da paz, o repúdio ao terrorismo e a autodeterminação dos povos".

Segundo apurou o jornal Folha de S. Paulo, membros da ala militar do governo reclamaram que não teriam sido ouvidos pelo presidente Jair Bolsonaro antes de o Brasil se pronunciar oficialmente favorável à estratégia americana.

Muitos no governo acreditam que uma declaração de apoio nesses moldes poderia trazer problemas nas relações com os países árabes contrários a Israel e ameaças à segurança.

O embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Alzeben, criticou o plano, que, em sua opinião, seria uma "imposição da postura israelense" e que "não atende às aspirações do povo palestino. Ele disse ter solicitado uma audiência com Bolsonaro para discutir a questão, segundo a Folha.

Desde a campanha à Presidência, Bolsonaro vem adotando posições favoráveis aos israelenses, como ao acenar com a intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, seguindo o exemplo dos EUA.

A proposta, que significaria o reconhecimento da cidade disputada por israelenses e palestinos como a verdadeira capital do país, gerou revolta em alguns países árabes, que ameaçaram boicotar a importação de produtos brasileiros.

RC/ots

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