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Crise da Airbus preocupa governo alemão

(gh)4 de outubro de 2006

Atraso na entrega do A380 derruba ações da EADS. Rumores sobre transferência da produção de Hamburgo para Toulouse mobilizam políticos alemães. Berlim vê "chance teórica" de investir no grupo de aeronáutica e defesa.

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A380 não vai decolar no prazo previstoFoto: AP

As ações do grupo europeu de aeronáutica e defesa EADS chegaram a cair 11% nesta quarta-feira (04/10), pouco após a abertura do pregão na Bolsa de Paris, devido à crise de sua filial Airbus, decorrente do anúncio de novos atrasos nas entregas do superavião A380. Durante o dia, o título se recuperou um pouco.

Nesta terça-feira, a diretoria da empresa elevou para dois anos o adiamento em relação ao programa inicial do avião, capaz de transportar 555 passageiros na versão standard. A Airbus continua tendo problemas para instalar os cabos no superjumbo, projetado para substituir o Boeing 747. Desde a revelação do problema, em março deste ano, as ações da EADS perderam 40% de seu valor.

O primeiro avião em série só deverá decolar em outubro de 2007. As demais aeronaves já encomendadas deverão ser entregues a partir de 2008. Os atrasos, com os sobrecustos e multas, provocarão perdas equivalentes a 4,8 bilhões de euros no período 2006–2010.

Quarenta mil empregos na Alemanha

Airbus-Montagehallen in Hamburg
Fábrica do A318, A319, A321 e A380 em Hamburgo, sede alemã da AirbusFoto: Airbus

Na Alemanha, os problemas com o A380 mobilizam políticos e sindicalistas, preocupados com a eventual perda de empregos no país. Nesta quinta-feira, o ministro da Economia, Michael Glos, discutirá a crise com o presidente da Airbus, Christian Streiff. Na próxima semana, o governador da Baixa Saxônia, Christian Wulf (CDU), quer se reunir com o co-presidente da EADS, Thomas Enders.

A Airbus tem 16 centros de produção em vários países europeus, entre eles as fábricas de Toulouse (França) e Hamburgo, onde emprega 12 mil funcionários, dos quais 2500 foram contratados só para a construção do A380.

A empresa ainda mantém outros cincos centros de produção no norte da Alemanha e um em Baden-Württemberg (sudoeste). De acordo com estimativas iniciais da Associação Alemã da Indústria Aeroespacial, o novo Airbus deve gerar cerca de 40 mil empregos no país.

Hamburgo ou Toulouse?

Christian Streiff
Streiff anuncia terapia de choqueFoto: AP

Em reação à crise, Streiff anunciou uma terapia de choque, chamada Power 8, que deverá reduzir as despesas de estrutura em 30% em quatro anos. Ele admitiu que o plano significará um corte de pessoal, mas não revelou detalhes. O ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrück, advertiu que o saneamento da Airbus não deve ser feito às custas dos funcionários alemães.

As advertências de políticos e sindicalistas alemães dirigem-se contra especulações sobre a transferência completa da produção do A380 de Hamburgo para Toulouse, na França. Em troca, os alemães ficariam com a fabricação do bem-sucedido modelo A320.

Analistas acreditam que a transferência para Toulouse aumentaria a eficiência da empresa. "Isso não só melhoraria a comunicação entre os departamentos da Airbus como também facilitaria o trabalho com os fornecedores", disse o analista Frank Skodzik, do WestLB, banco estadual da Renânia do Norte-Vestfália.

Participação do governo

Sitz der KfW Bankengruppe in Frankfurt am Main
KfW em Frankfurt: futuro acionista da EADS?Foto: KfW Presse

Para tentar preservar a influência alemã, o governo em Berlim não descarta a possibilidade de participar do capital da EADS. Caso a DaimlerChrysler coloque à venda os 22,5% das ações que detém no grupo de aeronáutica, o Instituto de Crédito para a Reconstrução (KfW) poderia entrar no negócio, noticiou a revista Der Spiegel.

"A questão da participação do KfW é uma possibilidade teórica, mas não uma solução perseguida atualmente pelo governo", disse nesta quarta-feira o porta-voz da Chancelaria Federal, Ulrich Wilhelm. Ele acrescentou que o governo prefere deixar para o setor privado o papel de liderança nos investimentos na EADS

"As atuais relações de participação, com o controle majoritário por acionistas alemães e franceses, têm sido economicamente razoáveis no passado, também com base no papel determinante da iniciativa privada", disse Wilhelm.

A EADS informou à agência de notícias France Press que "a direção do grupo sempre foi favorável a uma diminuição das partes detidas pelos governos no seu capital e não a um aumento". O governo da França tem uma participação de 15%, o da Alemanha não é acionista da companhia. A Sepi, holding estatal espanhola, detém 5,47% das ações.

Segundo analistas, um aumento da participação estatal poderia até agravar a crise da empresa, gerada por uma organização ineficiente, uma liderança fraca e a perda de oportunidades na disputa do mercado. Enquanto a reestruturação não mostrar resultados, as ações da EADS continuam sendo um investimento de risco, alertam.