Encontro Dilma-Medvedev prenuncia acordos nas áreas de defesa e tecnologia
19 de fevereiro de 2013A presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer vão receber em Brasília a visita do primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, a partir desta quarta-feira (20/02). Em dois dias, os encontros devem gerar acordos principalmente nas áreas de defesa, tecnologia e agricultura.
Medvedev vai participar da 6ª reunião da Comissão de Alto Nível (CAN) de Cooperação Rússia-Brasil – copresidida por Temer e Medvedev. Na lista de discussões está, ainda, a criação de um banco de desenvolvimento para fomentar empresas dos países que compõem o Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
"A visita de Medvedev tem um grande significado. Apesar de o comércio entre os dois países ter aumentado muito, temos pontos a serem resolvidos, como por exemplo, o embargo da carne pelos russos e a compra dos aviões caça Sukhoi para a Aeronáutica", frisou Paulo Carvalho, professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB).
Para equipar suas Forças Armadas, o Brasil deve comprar dos russos três baterias antiaéreas de alta tecnologia Pantsir S1– que lança mísseis terra-ar com alcance de 20km e 15km de altitude – e realizar, ainda, um acordo joint venture entre Embraer, Avibrás e Odebrecht Defesa e Tecnologia para produzir mísseis Igla-S, que podem ser disparados a partir do ombro de um soldado. Em todos os casos, os russos teriam disposição de transferir tecnologia para o Brasil. O valor da operação ainda não foi definido.
Entre os convênios simbólicos, está a instalação de um ponto de calibragem do sistema russo de localização geográfica concorrente do GPS, o Glonass. Há a possibilidade de a Embraer fechar um acordo para construir um avião civil de médio porte da sua congênere russa.
Carvalho acredita que o caça russo Sukhoi ainda tenha grandes chances de ser o escolhido para equipar a Aeronáutica do Brasil, e que o assunto continuará a ser discutido em Brasília. Os aviões russos disputam a preferência brasileira com o francês Rafale, o sueco Gripen NG e o norte-americano F18 Super Hornet – este último, produzido pela Boeing. "O nível de transferência tecnológica oferecida pelos russos ao Brasil é grande", frisou.
Banco do Brics
Rousseff deverá discutir com Medvedev a criação de um banco de desenvolvimento do grupo Brics, que atuaria na liberação de linhas de financiamento para empresas do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Essa instituição, nos moldes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), poderá ser oficializada na próxima reunião do Brics, em março deste ano, na África do Sul.
Gilberto Ramos, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia, acredita que será estabelecida uma cooperação entre os dois bancos nacionais de desenvolvimento para a criação de linhas de crédito voltadas a projetos que envolvam transferência de tecnologia da Rússia para o Brasil nas áreas de energia, fármacos e desenvolvimento de novos materiais. O Brasil poderá fechar parceria, ainda, com universidades russas para receber estudantes brasileiros pelo programa de intercâmbio Ciências Sem Fronteiras.
Outra possibilidade discutida por brasileiros e russos é o uso do real e do rublo no intercâmbio comercial entre os dois países. A Rússia já possui acordo semelhante com a China e a Índia; o Brasil, por sua vez, com a Argentina.
A presidente brasileira deverá aproveitar o encontro com o primeiro-ministro russo a fim de pedir apoio à candidatura do diplomata brasileiro, Roberto Azevêdo, para a chefia da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em entrevista exclusiva para a DW, no início de fevereiro, Azevêdo afirmou que pretende fortalecer sistema multilateral de comércio e avançar com as negociações da Rodada de Doha – que está parada há 12 anos e tem o objetivo de remover barreiras comerciais entre os países.
Fim do embargo da carne?
O tema agricultura também dominará parte das reuniões entre as delegações e líderes políticos. O Brasil deseja ampliar a venda de carne e soja para a Rússia, enquanto esta ainda analisa se retira o embargo às exportações de carne de três estados brasileiros – Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que já dura mais de um ano e meio.
Na visita de Rousseff a Moscou, em dezembro do ano passado, quando se reuniu com Medvedev e o presidente russo, Vladmir Putin, existia a expectativa de que o governo russo fosse finalmente suspender a restrição à carne brasileira – o que acabou não acontecendo e, de certa forma, frustrando parte da delegação de técnicos, empresários e políticos brasileiros enviados à Rússia.
Mesmo com o embargo, a Rússia continua sendo o maior destino das exportações de carne suína e bovina do Brasil. "Os comitês veterinários e fitossanitários dos dois países estão reunidos desde segunda-feira. Temos expectativa que haja evolução quanto ao tema", frisou Gilberto Ramos.
De Brasília, o primeiro-ministro russo segue para a capital cubana, Havana, onde vai se encontrar com o presidente Raúl Castro. O objetivo da visita à ilha caribenha é aumentar o intercâmbio comercial entre os dois países.
Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Augusto Valente