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Médicos contra a ditadura dos caixas vazios

Karl Zawadzky (rr)16 de março de 2006

Pela primeira vez, a Alemanha vive uma vasta greve do setor médico. Após declararem frustradas as negociações tarifárias, 22 mil médicos de hospitais universitários decidiram a paralisação e demandam 30% mais salário.

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Sindicato garante que nenhum paciente será prejudicadoFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

Milhares de médicos de hospitais universitários alemães deram início nesta quinta-feira (16/03) a uma greve sem final previsto, através da qual reivindicam a melhoria dos horários de trabalho, um significativo aumento salarial de 30% e um acordo tarifário específico para a categoria.

A greve, organizada pela Aliança Marburg, que defende os interesses dos clínicos e zela pela qualidade dos cuidados médicos no país, tem como meta protestar contra as condições de trabalho nos hospitais universitários, entidades mantidas pelo governo estadual e destinadas não à assistência médica convencional, mas à medicina de ponta, à pesquisa científica e à formação de profissionais.

Mas os médicos desses hospitais têm de lidar com os mesmos problemas que os de qualquer outro hospital. Enquanto os diretores de unidade pertencem ao grupo dos profissionais mais bem pagos do país, assegurando um alto salário através do tratamento de pacientes de assistência médica privada, os demais internistas tiveram seu bônus de Natal cortado. Além disso, as freqüentes horas extras prestadas são pagas apenas parcialmente ou nem são remuneradas.

Piores perspectivas

Nos últimos anos, as perspectivas profissionais pioraram notavelmente. Antes, médicos assistentes faziam horas extras e turnos da noite seguros de que teriam um bom ordenado assim que abrissem um consultório próprio, terminada a fase de experiência.

Mas médicos estabelecidos já não mais pertencem necessariamente aos profissionais mais bem pagos do país. E, uma vez que é proibido abrir consultórios em regiões onde o mercado está saturado, muitos acabam como subalternos mal remunerados em hospitais, o que significa tarefas adicionais sem remuneração e trabalho noturno para o resto da vida profissional.

A atual paralisação do setor nada mais é que a ira acumulada desses profissionais convertida na luta por melhores condições de trabalho. No entanto, a demanda por um aumento salarial de 30% é – em si e para as condições alemãs – absolutamente exagerada.

"Nós tivemos uma perda salarial real de 7%, enquanto funcionários de postos administrativos tiveram um aumento de 6%. Ainda perdemos o bônus de Natal, e aí vão outros 7%", defende Frank Ulrich Montgomery, presidente da Aliança Marburg. "E ainda querem aumentar nossa carga horária de trabalho em 9%, sem aumentar a remuneração. Isso representa 30%. Queremos de volta aquilo que nos tomaram."

Pouco muda para pacientes

Por enquanto, a paralisação do setor afetou o atendimento médico em Freiburg, Heidelberg, Munique, Würzburg, Bonn, Essen, Mainz e Halle. Nas próximas semanas, os grevistas pretendem expandir a paralisação em nível nacional. Segundo a Aliança Marburg, médicos de Frankfurt e Marburg teriam se juntado à causa de última hora.

Em referendos realizados no começo da semana, 98,4% dos participantes votaram a favor da paralisação. Segundo Montgomery, "já está mais do que na hora, pois os melhores médicos do país vão buscar a sorte no exterior. Na Grã-Bretanha e na Holanda, ganha-se o dobro, até o triplo, com condições de trabalho decentes e menos horas extras".

Para os pacientes, a paralisação do setor significa maior tempo de espera, uma vez que cirurgias e exames serão adiados. No entanto, o sindicato garante que nenhum paciente será prejudicado pela manifestação.

Enfermarias e unidades de tratamento intensivo continuarão operando sem interrupções. Para piorar a situação, a greve dos médicos coincide com a paralisação dos serviços públicos em alguns Estados, o que também afeta os hospitais do país.