Mudanças climáticas
2 de fevereiro de 2007A Terra vai se aquecer entre 1,1ºC e 6,4ºC até o final do século, o que fará subir o nível dos mares em até 59 centímetros e aumentar os períodos de secas e as ondas de calor. Essas são as principais conclusões do relatório apresentado em Paris nesta sexta-feira (02/02) pelos participantes do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (no inglês, IPCC). Participaram do estudo 500 pesquisadores do clima, representando 113 países.
A elevação da temperatura levará ao aumento do nível dos oceanos e a múltiplos fenômenos extremos, como ondas de calor, secas prolongadas e precipitações intensas, que poderão provocar o deslocamento de cerca de 200 milhões de refugiados climáticos até o final do século.
Responsabilidade humana
Este quarto relatório do IPCC, grupo criado em 1988 pelas Nações Unidas, traduz também a convicção dos peritos sobre a responsabilidade humana no aquecimento global observado nos últimos 50 anos e que, segundo eles, não pode ser atribuído somente às alterações naturais do meio ambiente.
Mesmo que a concentração dos gases que provocam o efeito estufa fosse mantida nos níveis do ano 2000, seria de se esperar um aumento de 0,1ºC por década. "O relatório elimina as últimas dúvidas de que são os seres humanos os responsáveis pelas alterações no clima. Por isso, está nas nossas mãos corrigir isso", salientou Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto de Pesquisas de Conseqüências das Mudanças do Clima, de Potsdam, no Leste alemão.
Nos últimos 50 anos, a temperatura cresceu duas vezes mais rápido do que nos cem anos anteriores, destacou Susan Solomon, co-autora do estudo da ONU. Desde 1750, a combustão de materiais fósseis aumentou em 35% a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera.
Este foi o primeiro relatório global do IPCC em seis anos. Criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o IPCC é a mais alta autoridade científica do mundo sobre aquecimento global.
O estudo apresenta seis possibilidades: no melhor dos casos, até 2100 haveria um aumento entre 1,1ºC e 2,9ºC na temperatura do planeta. A pior situação prevê um aumento entre 2,4ºC e 6,4ºC. O aumento do nível dos oceanos seria entre 18 e 38 centímetros na melhor das hipóteses e entre 26 e 59 centímetros, na pior.
Conseqüências na Alemanha
Embora as principais atingidas pela catástrofe climática sejam as regiões pobres do planeta, também a Europa sentirá seus efeitos. Os cientistas acreditam que até o ano 2100 o nível do Mar do Norte possa subir em um metro. A conseqüência disso seriam graves enchentes e cada vez mais ondas gigantes no norte da Alemanha. A ilha de Sylt já não seria mais habitável e partes das cidades litorâneas seriam inundadas.
As alterações nas quantidades e períodos de chuva provocariam mudanças substanciais na agricultura e na silvicultura do país. A saúde estaria ameaçada pelo aumento da concentração de substâncias poluentes no ar e na água, e a falta de um inverno rigoroso propiciaria pragas de parasitas, hoje conhecidas apenas em países do sul da Europa.
Em reação, o governo da Alemanha anunciou nesta sexta-feira que o Ministério da Pesquisa pretende aplicar nos próximos três anos 255 milhões de euros em estudos sobre o clima. Paralelamente, vai se engajar por uma distribuição mais efetiva das tecnologias de proteção ao meio ambiente para garantir mercados mundiais às empresas alemãs.
Chirac adverte perda de controle sobre o clima
Logo após a divulgação do relatório do IPCC, foi aberta pelo presidente francês, Jacques Chirac, em Paris, uma conferência internacional sobre o meio ambiente, com a participação de 200 representantes de 50 países. Chirac advertiu estar próximo o dia em que se perderá o controle sobre o clima. "Está na hora de uma revolução nas atitudes políticas", apelou.
A sugestão do presidente francês de transformar o programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em uma organização da ONU recebeu o apoio do ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel. "Precisamos de organismos internacionais que tenham força de ação e estruturas efetivas", disse o político social-democrata.
Gabriel exigiu também o fim dos impasses em relação à política européia comum de proteção ao clima e apelou para que seja adotado o objetivo da União Européia de reduzir em 30% até 2020 a emissão mundial de gases que causam o efeito estufa.
O alemão Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, defendeu um encontro de cúpula mundial, com a participação de chefes de governo, como George W. Bush, e os líderes políticos de nações emergentes, entre os quais ele citou Brasil, China e Índia. As negociações em escalões inferiores não trazem os resultados desejados, disse Steiner em entrevista ao jornal Frankfurter Rundschau.
Em reação ao relatório, o comissário de Meio Ambiente da União Européia, Stavros Dimas, disse ver no documento uma prova da necessidade de um acordo que suceda ao Protocolo de Kyoto após 2012.