Opinião: Reconhecimento tardio do extremismo no Leste alemão
21 de setembro de 2016Isso é algo nunca visto: o relatório oficial do governo alemão sobre o desenvolvimento na região da antiga Alemanha Oriental não poupa palavras. Fala-se de uma séria ameaça para o desenvolvimento por estruturas de extrema direita; do perigo de deixar que cidades e vilarejos inteiros sejam entregues ao fantasma neonazista; de que muito está em jogo para o Leste da Alemanha.
A encarregada do governo para os estados do Leste alemão, Iris Gleicke, admite abertamente: em viagens ao exterior, como recentemente para os EUA, ela é frequentemente indagada se é possível investir de consciência limpa nos estados da região ou se ali os estrangeiros não são desejados. E Gleicke deixa claro: ela não pode tirar todas as preocupações dos questionadores.
É certo que, passados 26 anos da Reunificação, no Leste alemão ainda há muito espaço para consideráveis melhoras. A economia fica para trás, muitos jovens deixam a região. O poder econômico é fragmentado, quase não existem grandes empresas. Por esse motivo, a taxa de desemprego é mais alta que no Oeste, assim como a falta de perspectiva. Mas essa descrição da situação teve que servir, durante muito tempo, quase como uma justificativa para o fato de o extremismo de direita ser mais acentuado no Leste da Alemanha.
Durante muito tempo, a existência do problema foi simplesmente negada. É lendária, por exemplo, a frase do democrata-cristão Kurt Biedenkopf, ex-governador da Saxônia, de que seu estado seria imune ao extremismo de direita. Outros políticos falavam sempre de forma difusa de um problema tanto da esquerda quanto da direita, como se nos estados do Leste o extremismo de esquerda representasse, realmente, uma grandeza relevante.
O relatório diz claramente: ali, onde a xenofobia se manifesta, como em frente a abrigos de refugiados, falta o protesto da classe média, diferentemente do que ocorre no Oeste alemão. Pelo contrário: no Leste, os ataques contra migrantes são tolerados, muitas vezes tacitamente, ou até mesmo apoiados abertamente pela classe média. E, agora, o relatório do governo afirma com todas as letras: a xenofobia aumentou nos últimos anos, principalmente desde a crise migratória. O texto também não se esquece de mencionar que a proporção de estrangeiros no Leste é em geral muito baixa.
Tal clareza é algo bom, mas resta o estranho sabor de que essa análise clara só é feita agora porque principalmente os partidos da coalizão de governo sofrem a pressão dos êxitos do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) nos estados do Leste e perdem eleitores. Agora é hora de agir rapidamente: mais dinheiro para iniciativas contra a extrema direita; mais policiais; mais clareza especialmente nos governos estaduais e governadores, que tendem, por medo de seus próprios cidadãos, a mascarar a situação em seus estados.
Mas o primeiro passo foi dado: o reconhecimento de que no Leste alemão existe uma forte ameaça à sociedade por parte da extrema direita. O próximo e crucial passo é finalmente tomar uma providência contra isso.