O alemão como um idioma cultural
19 de junho de 2007DW-WORLD: Durante dois anos, o Goethe Institut se ocupou de vários aspectos que compunham o tema "o poder do idioma". Qual o "poder" do alemão e qual o significado do processo de integração européia para a língua?
Ludwig M. Eichinger: As brigas de poder entre as principais línguas do continente mudaram de foco, já que o inglês acabou ganhando muito terreno como idioma internacional. Como isso é um fato consumado, é razoável que se discuta agora qual o valor e o poder de cada língua em si. A importância que os países de língua alemã têm dentro da Europa é muito significativa, o que torna claro o poder objetivo do idioma no continente. Como o alemão não tem a mesma penetração internacional que o francês e o inglês, por exemplo, é preciso que se tomem as medidas necessárias para que se afirme esse poder já reconhecido dentro do continente.
Em um contexto global, quais as áreas em que o alemão ainda tem algum tipo de papel?
As ciências naturais foram mais ou menos tomadas pelo inglês. Mas há uma linha de ciências tradicionais em que o alemão sempre teve muita força e continua tendo. São os casos da Filosofia, da Musicologia ou da História da Arte. Há ainda casos de áreas de pesquisa específicas – a História da Arte é uma delas –, em que o alemão teve até mais importância que o inglês nas últimas décadas.
Então o alemão está a caminho de se tornar um idioma cada vez mais importante?
Uma opção sensata seria o alemão se desenvolver a fim de se tornar uma língua regional na direção do bloco Leste da Europa. Há uma ligação idiomática de séculos entre a Alemanha e os países vizinhos do leste, por isso há nesses países uma grande tradição de aprendizado do alemão. Mas nós também deveríamos – e eu acho isso muito importante na Europa – ter o objetivo de que o alemão fosse para muitas pessoas uma segunda língua estrangeira. Em muitos países, o inglês obviamente será a língua estrangeira principal, mas há interesses específicos, em sua maioria econômicos e práticos, para se estudar o alemão que deveriam ser apoiados e fomentados.
Além de a Alemanha estar geograficamente no centro da Europa, o idioma também tem esse posicionamento central. O que significa esse centro estrutural do alemão?
Isso explica muitas particularidades que se apresentam no idioma. São dois tipos de organizações gramaticais que se encontram no alemão, o que muitas vezes é responsável por fazer a língua parecer difícil. E isso comprova que há muito mais semelhanças entre as línguas européias do que se pensa, quando se considera apenas a história de cada língua em particular.
Há, hoje em dia, a intenção de se fazer uma emenda constitucional que determine o alemão como língua oficial do país. O que o senhor acha disso?
Claro que as intenções que estão por trás disso são boas. O que se quer é mostrar que a nossa língua não é apenas um símbolo, mas que deve ser mantida em todos os setores funcionais. Por outro lado, acredito que ainda não tenhamos chegado ao ponto de questionar se na Alemanha a língua mais falada é alemão ou não. Sob esse ponto de vista ainda não é necessária uma emenda como essa na Constituição – que é um texto relativamente geral. Isso daria a impressão de que estamos correndo tanto perigo que precisamos utilizar artifícios legais para proteger a língua. O problema, na verdade, é outro: de que forma vamos promover a integração, por exemplo, dos imigrantes que não têm o alemão como língua materna?
Quantas línguas fala a Alemanha?
Em comparação com outros países, a Alemanha é um país relativamente poliglota – e em certos aspectos muito unilíngüe. O sistema é bem germanófono. O sistema de educação também é, teoricamente, direcionado para o domínio completo do idioma. Por outro lado, existe a variedade de línguas no dia-a-dia, com que é preciso se conviver de forma sensata.
Não existe o perigo – se, por exemplo, se passasse a dar mais valor ao turco – de que, de repente, todos falem turco. O problema está em encontrar, dentro da sociedade alemã, soluções que possibilitem a manutenção da identidade cultural dos imigrantes. Mas isso de uma forma que se valorize o domínio de várias línguas para esses imigrantes, já que eles devem ser capazes de proceder e conviver socialmente em alemão.
Porque já está mais do que provado que não dominar o alemão é um retrocesso para essas comunidades estrangeiras, especialmente grave para as gerações mais jovens. Sob esse aspecto, não é um perigo hipotético para o alemão o que deve ser discutido na questão da integração, mas sim o fato de nós termos o papel de dar chances adequadas de participação pública a todos os grupos sociais.
Precisamos, então, de uma "Academia Alemã de Letras", nos moldes franceses, para a manutenção e proteção da língua, ou seja, para que haja regras formais mais severas do uso do alemão?
A implantação disso seria um pouco difícil, já que o alemão tem uma cultura idiomática de muitos núcleos.
O que isso quer dizer exatamente?
Isso quer dizer que o alemão, tradicionalmente, não tem um centro onde se fale da forma mais correta. Um exemplo disso é o recente lançamento de um dicionário que descreve o que é considerado o alemão padrão na Áustria, na Suíça e na Alemanha, respectivamente. É claro que se poderia pensar na implantação de um instituto que tivesse o objetivo de cuidar da utilização sensata de palavras estrangeiras, por exemplo. Mas a criação de uma academia conjunta é muito difícil, dada a forma como o alemão nasceu e até hoje é utilizado.
Para terminar: em termos gerais, como o senhor caracterizaria o idioma alemão?
O alemão é um idioma que está no centro da Europa e por isso recebeu muitas influências da cultura européia, já que os contatos com outras culturas sempre foram inúmeros.
Prof. Dr. Ludwig M. Eichinger é diretor do Instituto de Língua Alemã (Institut für Deutsche Sprache) e catedrático de Lingüística Germânica (Germanistische Linguistik) na Universidade de Mannheim.