Preconceito
5 de março de 2007Recentemente, o jornal Blick, um tablóide de grande circulação, que descreveu o recente afluxo de alemães na Suíça como "a invasão do grande cantão do norte", perguntou a seus leitores se estavam cheios de "mão-de-obra barata, expressões arrogantes e uma desagradável autoconfiança". As respostas, como era de se esperar, foram as mais variadas.
De fato, a Suíça é atualmente o destino mais popular entre os alemães que buscam uma nova existência fora do país. Só em 2006, cerca de 25 mil cruzaram os Alpes em busca da boa vida que não conseguiram encontrar em casa. E a tendência é que esse número continue subindo. Mas, se os alemães nem são o maior grupo de estrangeiros na Suíça, qual o sentido desta campanha?
Para Oliven Classen, da ONG suíça Berne Declaration (Declaração de Berna), a ressonância encontrada atualmente na mídia por campanhas antigermânicas é um efeito inevitável das relações bilaterais entre o país e a União Européia, que levou ao aumento da liberdade de trânsito entre os vizinhos.
"A Alemanha é para a Suíça o que a Polônia é para Berlim", conta Classen. "Acordos bilaterais abriram as fronteiras e os receios na Suíça são semelhantes aos que a Alemanha teve diante da ampliação da UE."
Roubando empregos?
Uma das preocupações mais comuns é a de que os alemães possam roubar empregos da população local. Para Hans Reis, da Associação Suíça de Empregadores, a polêmica não passa de intriga da imprensa marrom.
Com a economia crescendo desenfreadamente e a indústria abrindo vagas, ele diz receber os trabalhadores alemães de braços abertos. "Precisamos de profissionais qualificados", disse. "E o bom dos alemães é que são bem treinados, trabalham duro e não têm problemas com o idioma."
Jean-Rainer Wiese, que narra em seu blog a aventura de ser um alemão vivendo na Suíça, concorda que os alemães são importantes para a economia do país. "Na Suíça, não há profissionais suficientes para levar a economia adiante e nós ajudamos o país a crescer."
Outra preocupação comum é a de que os alemães estariam dispostos a trabalhar por uns francos a menos que seus colegas suíços. Reis admite que os alemães muitas vezes estão acostumados a uma remuneração mais baixa, mas nega a acusação de que estariam reduzindo o nível salarial do país.
"Isso poderia acontecer se tivéssemos uma vaga para vários candidatos, o que não é o caso", conta. "As empresas aqui se dão por contentes em cobrir suas vagas."
Fronteiras culturais e lingüísticas
Wiese acredita que, para muitos suíços, a polêmica se resume a um simples choque cultural. "O principal problema é a maneira direta dos alemães", explica. "Os suíços são reservados e muito delicados, enquanto os alemães falam alto em público e dizem abertamente o que pensam. É uma diferença enorme de mentalidade."
Entre os suíços, a crítica mais comum aos alemães é a de que são "rápidos demais, barulhentos demais e arrogantes demais". Mas, para Wiese, diferenças lingüísticas seriam com freqüência o porquê de os suíços os considerarem arrogantes.
"Os alemães, quando vêm à Suíça, só falam o alemão padrão [Hochdeutsch], não a variante suíça da língua, o que automaticamente leva os nativos a pensar que seja por arrogância", argumenta.
Os suíços valorizam sua língua local como algo que os distingue dos vizinhos. Gregory Waldis, um ator que cresceu na Suíça e viveu vários anos na Alemanha, acredita que a diferença lingüística entre os países levou os suíços a respeitar os alemães a ponto de temê-los.
"A língua oficial na Suíça é o alemão padrão, que não é falado por ninguém a não ser pelas autoridades", argumenta. Para ele, o uso do alemão padrão para fins oficiais coloca a língua – e, conseqüentemente, aqueles que a usam – em um pedestal.
"Quando fui viver pela primeira vez na Alemanha e escutei as pessoas falando Hochdeutsch, achei que todos pareciam tão inteligentes", disse Waldis. "É muito impressionante para um ouvido suíço."
Waldis vê no problema do idioma apenas uma das causas para o complexo de inferioridade dos suíços. "Os alemães sempre foram os maiores", diz, lembrando que a situação pode estar se invertendo. "Recentemente, gente como [o suíço] DJ Bobo tem mostrado aos suíços que pessoas comuns também podem fazer acontecer. Só é preciso um pouco de confiança."