Satélite intercepta notícia sobre prisões da CIA
9 de janeiro de 2006O jornal suíço Sonntagsblick anunciou, na sua edição de domingo (08/01), que o serviço secreto suíço teria interceptado, por satélite, um fax enviado pelo ministro das Relações Exteriores egípcio, Ahmed Abul Gheit, à sua embaixada em Londres, confirmando a existência de prisões americanas em vários países do Leste europeu.
Entre as informações contidas na correspondência egípcia estaria a notícia do interrogatório, por parte da CIA, de 23 prisioneiros iraquianos e afegãos na base áerea romena de Mihail Kogalniceanu, no Mar Negro.
Segundo o jornal suíço, outras prisões clandestinas existiriam na Ucrânia, no Kosovo, na Macedônia e na Bulgária. O serviço secreto egípcio, de onde partiu a notícia enviada à embaixada, não divulgou fontes.
O Sonntagsblick afirma, entretanto, que especialistas consideram como "altamente profissional" o trabalho dos agentes egípcios.
Sem comentários
O Ministério da Defesa suíço não quis comentar a notícia. Em seu site, o Ministério afirma que o documento era considerado secreto e anuncia a criação de uma comissão de inquérito para apurar o vazamento da notícia.
Na Alemanha, o Tageschau noticiou a apreensão do governo suíço com o fato de o documento ter vindo às claras, pois a interceptação da correspondência diplomática de nações amigas fere as regras do Direito Internacional.
O redator-chefe do Sonntagsblick, Christoph Gernacher, afirmou ao Tageschau que não descarta a possibilidade de processo judicial pela divulgação de segredo de Estado. Após consultas a pessoas do alto-escalão do governo suíço, ele não duvida, entretanto, da autenticidade do documento.
Governos desmentem a existência de prisões
Os governos de alguns países dos Bálcãs negaram categoricamente a existência de prisões secretas americanas em seus territórios.
Reagindo à notícia do jornal suíço, o ministro das Relações Exteriores búlgaro, Iwajlo Kalfin, afirmou no último domingo, enquanto visitava oficialmente Varsóvia, que não existem prisões secretas da CIA em território búlgaro.
Dan Buciuman, comandante da base aérea romena Mihail Kogalniceanu, comentou que trabalha na base desde 1995 e que, desde então, não tem notícias de que tais interrogatórios tenham acontecido na base, que desde o início da Guerra do Iraque é utilizada como base militar pelos norte-americanos.
Quando indagados acerca da divulgação de notícias sobre o pouso de aviões suspeitos em Budapeste e Bucareste, o premiê húngaro, Ferenc Gyurcsány, e o primeiro-ministro romeno, Calin Popescu Tariceanu, desmentiram veementemente a existência de prisões secretas da CIA em seus países.
Organizações e mídia denunciam prisões
Segundo a emissora americana ABC, pouco antes da visita da secretária de Estado americana à Europa, no final do ano passado, o serviço secreto dos EUA transferiu prisioneiros de cárceres secretos em países do Leste Europeu para a África do Norte.
O documento interceptado pelo serviço secreto suíço confirma informações divulgadas pelo dossiê da organização de Direitos Humanos Human Rights Watch.
Segundo este dossiê, prisioneiros da base áerea de Salt Pit, em Cabul, foram transferidos, em aviões militares americanos, nos dias 21 e 22 de setembro de 2005, para a base de Mihail Kogalniceanu, na Romênia, e para Szymany, na Polônia.
A notícia do fax interceptado ganha importância, porque até o momento somente organizações de Direitos Humanos e a mídia haviam divulgado a existência de tais prisões.
Pressão aumenta
O comissário de Justiça, Liberdade e Segurança da União Européia, Franco Frattini, ameaçou os Estados europeus com graves sanções e até mesmo com a perda do direito de voto no Conselho Europeu, caso se confirmem as acusações da mídia e de organizações de Direitos Humanos.
A Procuradoria da República da Suíça já investiga, desde dezembro passado, as atividades ilegais norte-americanas em território suíço. Em novembro último, o governo em Berna pediu esclarecimentos a Washington sobre 27 vôos suspeitos por território suíço entre 2003 e 2004.
O porta-voz de Segurança e Política da bancada do Partido Verde alemão, Wolfgang Wieland, anunciou na edição de segunda-feira (09/01) do jornal Die Welt a necessidade da mudança da legislação de sigilo parlamentar e de um maior controle dos serviços secretos através do Parlamento.
Para as próximas semanas, os partidos de oposição pretendem instalar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar as atividades da CIA na Alemanha.
Além de Guantánamo, a chanceler federal Angela Merkel deverá levar mais este questionamento na pauta da visita que inicia esta semana em Washington.